Rostos pintados, faixas e cartazes nas mãos e na garganta gritos de
ordem. A bandeira, as cores e o Hino Nacional surgiam como se o País já
vivesse dias de Copa do Mundo. Pouco mais de 20 anos depois do movimento
que levou Fernando Collor de Melo a renunciar ao cargo de presidente da
República, o cenário narrado nas primeiras linhas voltou a acontecer em
todo Brasil, e em São Sebastião do Paraíso não foi diferente. Na noite
quinta-feira, 20, cerca de 2 mil pessoas participaram da “Marcha contra a
corrupção”.
A concentração dos manifestantes ocorreu no fim da tarde, na praça
Comendador José Honório (matriz), onde o grupo se organizou. Ao som de
apitos e cânticos que pediam o fim da corrupção, a “onda” seguiu pela
rua Dr. Placidino Brigagão até a praça dos Imigrantes, em frente ao
prédio da prefeitura. Lá, milhares de pessoas fizeram um minuto de
silêncio em respeito ao ex-prefeito Waldir Marcolini, falecido na manhã
daquele dia, e, logo depois, cantaram o Hino Nacional.
Entre outras reivindicações, o grupo também proferiu palavras de
repúdio ao arquivamento da comissão que investigaria as dívidas de IPTU
da família do prefeito. Em seguida, os manifestantes voltaram à praça da
matriz, onde aconteceu a manifestação final.
A opinião de quem estava lá
O músico e produtor audiovisual Ângelo Felix, 25, afirma que o
movimento despertou na população um sentimento de indignação. “Sempre
aceitamos uma condição, mas agora acordamos. O gigante acordou e o mundo
inteiro está vendo isso”. Ângelo também diz esperar que o brasileiro
aprenda a lutar pelos seus direitos. “Somos a resistência e a
resistência é tudo o que se move contra o sistema”.
A fotógrafa Eliane de Souza Pessone, 27, declara que a maioria das
pessoas que participaram na marcha protestou por motivos válidos como,
por exemplo, melhorias na educação, saúde, paz e fim da corrupção. A
criatividade dos participantes também chamou sua atenção. “Foi super
organizado e não teve vandalismo. Gostei dos cartazes criativos, com
desenhos e fotos. Tinha pessoas pedindo pelos animais, o que acho parte
importante de se olhar. O cidadão paraisense está de parabéns pela
mobili-zação e pela força que agregamos ao movimento nacional. Só assim
conseguiremos um País melhor”, comenta.
O advogado Antonio Borges Junior, 26, relata que o movimento do povo
paraiense surpreendeu toda a região. Segundo ele, a grande maioria das
pessoas se mostrou respeitadora e com sede de mudanças. Conforme
explica, a data entrou para a história da cidade. “É emocionante poder
fazer parte disso. Cantar o Hino Nacional ao lado de tantos ‘guerreiros’
não tem preço. O brasileiro, que é considerado um povo manso e
pacífico, percebeu que estes adjetivos não tinham por objetivo elogiar o
povo e sim impor um modo de vida, e agora vimos que é diferente, o
brasileiro é receptivo, é ordeiro, é festeiro, gosta de futebol mas fica
o recado: não pisem no nosso calo não”.
Questionado sobre a possível visão dos governantes do País em relação
à força do povo, Borges afirma que os políticos já passaram a enxergar
os brasileiros de outra forma. “Os políticos já nos veem diferente. Uma
vez que este é um movimento apartidário, nossa luta não é motivada por
partidos A, B ou C, essa batalha foi travada em busca de mais saúde,
mais educação, mais honestidade, ou seja, por mais respeito ao povo que
foi quem os escolheu para nos representar”, conclui.
Vândalo
Em meio à passeata pacífica, um indivíduo não identificado, desferiu
um soco contra a porta de vidro de um consultório odontológico enquanto a
manifestação passava pela rua Dr. Placidino Brigagão. Segundo um
soldado da PM, o autor do ato teve o rosto ferido pelos estilhaços.
(Texto publicado em 22 de Junho - edição 1699 - no Jornal do Sudoeste) FOTOS: DIEGO ROCHA
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