segunda-feira, 29 de julho de 2013

Com problemas financeiros, Paraíso Futsal pode paralisar atividades no final do ano

Tricampeão da Liga Rio Pardense, campeão dos Jogos do Interior de Minas, campeão dos Jogos de Minas, bicampeão da Taça EPTV e tricampeão da Taça TV Alterosa. Quem vê um currículo com tais glórias pode tranquilamente pensar que o detentor desses troféus levou longos anos para conquistá-los. Ledo engano. Em pouco mais de 36 meses, a equipe do Paraíso Futsal conseguiu feitos que outros clubes levam uma vida para conseguir – quando conseguem.

Tantas taças vencidas em um período tão curto poderiam garantir estabilidade e apoio a essa equipe. Contudo, a realidade vivida pelo soberano do futsal regional é muito diferente. Três anos após o seu nascimento, o Paraíso Futsal corre o sério risco de “morrer”. Problemas financeiros e a invia-bilidade da realização de um sonho podem ser as causas do fim.

“No início deste ano, perdemos alguns patrocinadores importantes que nos ajudavam pagando os salários e outras despesas de alguns atletas da equipe”, conta um dos fundadores do Paraíso Futsal e atual presidente do time, Agnaldo Grillo Paschoali, o “Tgna”. Com quase nenhum dinheiro em caixa, a direção se viu obrigada a dispensar dois (David e Andrezinho) dos três jogadores que ajudaram o time azul e branco a conquistar tantas vitórias. Formigão, o único remanescente no grupo, só ficou porque aceitou ter seu salário reduzido pela metade.

Das parceiras remanescentes, “Tgna” lembra que a maioria apóia a equipe na forma de permuta, ou seja, oferece produtos ou serviços em troca de publicidade. O pouco dinheiro que entra é utilizado para quitar custos diversos e os investidores pagam os salários de alguns jogadores e do treinador Ronei Magalhães. Nos últimos meses, o caixa do Paraíso Futsal tem fechado no vermelho. “Estamos com um déficit de R$ 1,5 mil mensais e temos, muitas vezes, que tirar dinheiro do próprio bolso para honrar nossos compromissos”, relata.

Sem dinheiro, mas com muita vontade de manter a hegemonia na modalidade, a diretoria decidiu por continuar a inscrever André e David nas competições que disputa, porém, como jogadores extras. Os atletas são chamados para compor o grupo apenas em partidas decisivas. Cada um desses jogos chega a custar, entre honorários e gastos com transporte, R$ 600.


A falta de verba, porém, tirou a dupla da decisão da Taça TV Alterosa, conquistada no dia 22 de julho. “Estamos com dificuldades. Eles estão inscritos para a disputa da EPTV, mas não sabemos se vamos conseguir trazê-los”, completa o presidente.

 Jogos Abertos Brasileiros


A crise financeira que atinge a equipe de futsal paraisense não afetou apenas a qualidade técnica da equipe, e sim a possibilidade do time subir degraus ainda mais altos. Campeão dos Jogos de Minas Gerais em 2012 após derrotar a tradicional equipe do Minas Tênis Clube, o Paraíso Futsal se classificou para os Jogos Abertos Brasileiros (JABS) deste ano, disputado em Criciúma - SC.

Sem a ajuda do governo mineiro (que sempre custeou as viagens e estada das equipes representantes do estado), os diretores precisaram correr atrás de patrocinadores para levantar a quantia de R$ 20 mil. A prefeitura de Paraíso e algumas empresas se comprometeram a ajudar, mas ainda faltavam R$ 10 mil, que não foram conseguidos. Assim, a direção teve que desistir da competição nacional. “Foi muito frustrante para todos que conseguiram a vaga dentro de quadra. Se fosse o Minas o campeão, tenho certeza que o estado ajudaria”, lamenta “Tgna”.

 O início 


O Paraíso Futsal nasceu em 2010, em uma época em que a modalidade estava praticamente desativada no município. Os tempos áureos vividos na segunda metade da década de 1.990 haviam ficado para trás junto com as conquistas das taças EPTV (1996) e Alterosa (1997). Apenas as equipes de base mantidas pela prefeitura sobreviviam.

“A gente cobrava isso da administração passada, porque nós, amantes do futsal, queríamos ver a cidade disputando as competições que a gente costumava disputar no passado. Foi quando o então secretário Mariano Bícego chamou o Wilson (Donizete de Oliveira, atual vice-presidente da equipe), o Wander Pimenta (goleiro) e eu, e propôs a criação de uma associação sem fins lucrativos para tocar o futsal. A Secretaria de Esporte ofereceria a infraestru-tura da arena mais os custos de viagem e alimentação durante os jogos. Nós aceitamos a proposta e corremos atrás de parceiros”, recorda.

Firmado o novo desafio, os fundadores procuraram o empresário Osvaldo Tosin, atual secretário municipal de Esporte que, durante a década de 90, era diretor do Ouro Verde Tênis Clube, que ajudava a equipe da cidade. “De pronto ele aceitou o desafio e, até hoje, quem paga os salários do Ronei é a sua empresa”, conta “Tgna”.

 Com a ajuda da ACISSP e de mais algumas empresas da cidade, o Paraíso Futsal conseguiu qualificar seu time e começou a ver os resultados logo em seus primeiros meses de criação. Ainda em 2010, a equipe comandada por Magalhães chegou à final da EPTV, disputada na recém-inaugurada Arena “João Mambrini”. O empate em 3 a 3 deu o título para Alfenas, mas o resultado, no entanto, levou o “azul e branco” a buscar a perfeição.

“Desde então, a equipe veio se estruturando e, a partir de 2011, trouxemos o Formigão, que marcou os três gols de Alfenas naquela final que perdemos em casa. Ainda vieram o David e o André”. Mais forte, Paraíso conseguiu naquele ano disputar a primeira divisão do campeonato paulista e equipes do naipe de São Paulo FC, Corinthians e Santos chegaram a jogar na arena. “Perdemos, mas demos muito trabalho a eles”, recorda o dirigente.

 O sonho... 


“O Paraíso Futsal nasceu para ser grande”. A afirmação de “Tgna” não diz respeito apenas ao nível regional. Isso a equipe já conquistou. O presidente fala em voos mais altos e almeja integrar a Liga Nacional, que reúne as 20 principais equipes do Brasil. Poucos sabem, mas o time da cidade poderia ter disputado o certame nacional em 2012, entretanto, mais uma vez, a falta de patrocinadores, impossibilitou a realização do sonho de atletas, comissão técnica, diretoria e torcida. “Para isso, teríamos que conseguir, pelo menos, dois grandes parceiros que pudessem alavancar esse desejo. Precisaríamos de R$ 40 mil mensais para contratar atletas, mais o apoio da prefeitura com alimentação e transporte. Tivemos a oportunidade no ano passado, pois fomos convidados depois da desistência de uma equipe, porém, faltaram esses parceiros”.

O presidente conta que o sonho da Liga só existe por causa da Arena “João Mambrini”, um dos melhores ginásios esportivos do País. Ele cita uma conversa que teve com o jogador Falcão durante uma das estadas do Intelli/Orlândia na cidade. “O Falcão, maior atleta da modalidade no mundo, rasgou elogios à arena e disse que gostaria de jogar em uma equipe com um ginásio igual ao nosso”, lembra.

Para testificar que seu sonho não é impossível, “Tgna” menciona outra conversa que teve com pessoas ligadas ao atual campeão da Liga Futsal. “O Orlândia chegou até o título da Liga porque um parceiro acreditou. O treinador Cidão nos contou que, há 15 anos, o sonho deles era ganhar a EPTV, como nós. A semente tem que ser plantada agora para que alguém possa colher lá na frente”.

 ... e a realidade


Longe daquilo que idealiza, a associação tenta manter o nível da equipe, pelo menos, até o final deste ano. Conforme explica o dirigente, caso o Paraíso Futsal não consiga mais parceiros para seguir lutando por uma vaga na Liga, suas atividades podem ser “paralisadas” por tempo indeterminado. As competições que hoje são disputadas pelo time seriam jogadas pelas equipes de base mantidas pelo município. “Hoje a nossa realidade é tentar apoio para nos manter como estamos, só que isso é muito pouco diante de tudo o que conquistamos e da infraestrutura que temos para o esporte. Se for para disputar o que estamos disputando, não precisamos sofrer tanto.  Podemos usar as equipes de base, que são muito boas. Nós continuaríamos correndo atrás dos parceiros e só voltaríamos depois, para a disputa de uma Liga”, avisa.

 Frustração 


Indagado sobre a possibilidade de paralisação, o presidente do Paraíso Futsal afirma estar frustrado. Para ele, a maioria dos empresários que atuam na cidade não reconhece a importância do trabalho realizado nos últimos três anos. Muitos, segundo ele, preferem patrocinar equipes de outras localidades a apoiar o projeto paraisense. “Tgna” ainda rechaça qualquer ideia da prefeitura investir na equipe. “Não acho correto usar o dinheiro público para custear uma equipe profissional. Ele deve ser gasto com o que já está sendo feito. Faltam parceiros mesmo”, diz.


Sem perder as esperanças, o presidente faz um apelo aos grandes empresários da cidade. “Eles poderiam nos apoiar e descontar de seu Imposto de Renda. Podem encontrar meios, já que hoje tem o ICMS esportivo”. Enquanto novos horizontes não surgem, o Paraíso Futsal segue firme na briga pelo tricampeonato consecutivo da Taça EPTV. Além disso, apostará suas últimas fichas no campeonato mineiro, a ser realizado nos próximos meses.

Equipe conquista o tricampeonato consecutivo da Taça TV Alterosa - Foto: Assessoria Paraíso Futsal

Nenhum comentário:

Postar um comentário