Tricampeão da Liga Rio Pardense, campeão dos Jogos do Interior de
Minas, campeão dos Jogos de Minas, bicampeão da Taça EPTV e tricampeão
da Taça TV Alterosa. Quem vê um currículo com tais glórias pode
tranquilamente pensar que o detentor desses troféus levou longos anos
para conquistá-los. Ledo engano. Em pouco mais de 36 meses, a equipe do
Paraíso Futsal conseguiu feitos que outros clubes levam uma vida para
conseguir – quando conseguem.
Tantas taças vencidas em um período tão curto poderiam garantir
estabilidade e apoio a essa equipe. Contudo, a realidade vivida pelo
soberano do futsal regional é muito diferente. Três anos após o seu
nascimento, o Paraíso Futsal corre o sério risco de “morrer”. Problemas
financeiros e a invia-bilidade da realização de um sonho podem ser as
causas do fim.
“No início deste ano, perdemos alguns patrocinadores importantes que
nos ajudavam pagando os salários e outras despesas de alguns atletas da
equipe”, conta um dos fundadores do Paraíso Futsal e atual presidente do
time, Agnaldo Grillo Paschoali, o “Tgna”. Com quase nenhum dinheiro em
caixa, a direção se viu obrigada a dispensar dois (David e Andrezinho)
dos três jogadores que ajudaram o time azul e branco a conquistar tantas
vitórias. Formigão, o único remanescente no grupo, só ficou porque
aceitou ter seu salário reduzido pela metade.
Das parceiras remanescentes, “Tgna” lembra que a maioria apóia a
equipe na forma de permuta, ou seja, oferece produtos ou serviços em
troca de publicidade. O pouco dinheiro que entra é utilizado para quitar
custos diversos e os investidores pagam os salários de alguns jogadores
e do treinador Ronei Magalhães. Nos últimos meses, o caixa do Paraíso
Futsal tem fechado no vermelho. “Estamos com um déficit de R$ 1,5 mil
mensais e temos, muitas vezes, que tirar dinheiro do próprio bolso para
honrar nossos compromissos”, relata.
Sem dinheiro, mas com muita vontade de manter a hegemonia na
modalidade, a diretoria decidiu por continuar a inscrever André e David
nas competições que disputa, porém, como jogadores extras. Os atletas
são chamados para compor o grupo apenas em partidas decisivas. Cada um
desses jogos chega a custar, entre honorários e gastos com transporte,
R$ 600.
A falta de verba, porém, tirou a dupla da decisão da Taça TV
Alterosa, conquistada no dia 22 de julho. “Estamos com dificuldades. Eles
estão inscritos para a disputa da EPTV, mas não sabemos se vamos
conseguir trazê-los”, completa o presidente.
Jogos Abertos Brasileiros
A crise financeira que atinge a equipe de futsal paraisense não
afetou apenas a qualidade técnica da equipe, e sim a possibilidade do
time subir degraus ainda mais altos. Campeão dos Jogos de Minas Gerais
em 2012 após derrotar a tradicional equipe do Minas Tênis Clube, o
Paraíso Futsal se classificou para os Jogos Abertos Brasileiros (JABS)
deste ano, disputado em Criciúma - SC.
Sem a ajuda do governo mineiro (que sempre custeou as viagens e
estada das equipes representantes do estado), os diretores precisaram
correr atrás de patrocinadores para levantar a quantia de R$ 20 mil. A
prefeitura de Paraíso e algumas empresas se comprometeram a ajudar, mas
ainda faltavam R$ 10 mil, que não foram conseguidos. Assim, a direção
teve que desistir da competição nacional. “Foi muito frustrante para
todos que conseguiram a vaga dentro de quadra. Se fosse o Minas o
campeão, tenho certeza que o estado ajudaria”, lamenta “Tgna”.
O início
O Paraíso Futsal nasceu em 2010, em uma época em que a modalidade
estava praticamente desativada no município. Os tempos áureos vividos na
segunda metade da década de 1.990 haviam ficado para trás junto com as
conquistas das taças EPTV (1996) e Alterosa (1997). Apenas as equipes de
base mantidas pela prefeitura sobreviviam.
“A gente cobrava isso da administração passada, porque nós, amantes
do futsal, queríamos ver a cidade disputando as competições que a gente
costumava disputar no passado. Foi quando o então secretário Mariano
Bícego chamou o Wilson (Donizete de Oliveira, atual vice-presidente da
equipe), o Wander Pimenta (goleiro) e eu, e propôs a criação de uma
associação sem fins lucrativos para tocar o futsal. A Secretaria de
Esporte ofereceria a infraestru-tura da arena mais os custos de viagem e
alimentação durante os jogos. Nós aceitamos a proposta e corremos atrás
de parceiros”, recorda.
Firmado o novo desafio, os fundadores procuraram o empresário Osvaldo
Tosin, atual secretário municipal de Esporte que, durante a década de
90, era diretor do Ouro Verde Tênis Clube, que ajudava a equipe da
cidade. “De pronto ele aceitou o desafio e, até hoje, quem paga os
salários do Ronei é a sua empresa”, conta “Tgna”.
Com a ajuda da ACISSP e de mais algumas empresas da cidade, o Paraíso
Futsal conseguiu qualificar seu time e começou a ver os resultados logo
em seus primeiros meses de criação. Ainda em 2010, a equipe comandada
por Magalhães chegou à final da EPTV, disputada na recém-inaugurada
Arena “João Mambrini”. O empate em 3 a 3 deu o título para Alfenas, mas o
resultado, no entanto, levou o “azul e branco” a buscar a perfeição.
“Desde então, a equipe veio se estruturando e, a partir de 2011,
trouxemos o Formigão, que marcou os três gols de Alfenas naquela final
que perdemos em casa. Ainda vieram o David e o André”. Mais forte,
Paraíso conseguiu naquele ano disputar a primeira divisão do campeonato
paulista e equipes do naipe de São Paulo FC, Corinthians e Santos
chegaram a jogar na arena. “Perdemos, mas demos muito trabalho a eles”,
recorda o dirigente.
O sonho...
“O Paraíso Futsal nasceu para ser grande”. A afirmação de “Tgna” não
diz respeito apenas ao nível regional. Isso a equipe já conquistou. O
presidente fala em voos mais altos e almeja integrar a Liga Nacional,
que reúne as 20 principais equipes do Brasil. Poucos sabem, mas o time
da cidade poderia ter disputado o certame nacional em 2012, entretanto,
mais uma vez, a falta de patrocinadores, impossibilitou a realização do
sonho de atletas, comissão técnica, diretoria e torcida. “Para isso,
teríamos que conseguir, pelo menos, dois grandes parceiros que pudessem
alavancar esse desejo. Precisaríamos de R$ 40 mil mensais para contratar
atletas, mais o apoio da prefeitura com alimentação e transporte.
Tivemos a oportunidade no ano passado, pois fomos convidados depois da
desistência de uma equipe, porém, faltaram esses parceiros”.
O presidente conta que o sonho da Liga só existe por causa da Arena
“João Mambrini”, um dos melhores ginásios esportivos do País. Ele cita
uma conversa que teve com o jogador Falcão durante uma das estadas do
Intelli/Orlândia na cidade. “O Falcão, maior atleta da modalidade no
mundo, rasgou elogios à arena e disse que gostaria de jogar em uma
equipe com um ginásio igual ao nosso”, lembra.
Para testificar que seu sonho não é impossível, “Tgna” menciona outra
conversa que teve com pessoas ligadas ao atual campeão da Liga Futsal.
“O Orlândia chegou até o título da Liga porque um parceiro acreditou. O
treinador Cidão nos contou que, há 15 anos, o sonho deles era ganhar a
EPTV, como nós. A semente tem que ser plantada agora para que alguém
possa colher lá na frente”.
... e a realidade
Longe daquilo que idealiza, a associação tenta manter o nível da
equipe, pelo menos, até o final deste ano. Conforme explica o dirigente,
caso o Paraíso Futsal não consiga mais parceiros para seguir lutando
por uma vaga na Liga, suas atividades podem ser “paralisadas” por tempo
indeterminado. As competições que hoje são disputadas pelo time seriam
jogadas pelas equipes de base mantidas pelo município. “Hoje a nossa
realidade é tentar apoio para nos manter como estamos, só que isso é
muito pouco diante de tudo o que conquistamos e da infraestrutura que
temos para o esporte. Se for para disputar o que estamos disputando, não
precisamos sofrer tanto. Podemos usar as equipes de base, que são
muito boas. Nós continuaríamos correndo atrás dos parceiros e só
voltaríamos depois, para a disputa de uma Liga”, avisa.
Frustração
Indagado sobre a possibilidade de paralisação, o presidente do
Paraíso Futsal afirma estar frustrado. Para ele, a maioria dos
empresários que atuam na cidade não reconhece a importância do trabalho
realizado nos últimos três anos. Muitos, segundo ele, preferem
patrocinar equipes de outras localidades a apoiar o projeto paraisense.
“Tgna” ainda rechaça qualquer ideia da prefeitura investir na equipe.
“Não acho correto usar o dinheiro público para custear uma equipe
profissional. Ele deve ser gasto com o que já está sendo feito. Faltam
parceiros mesmo”, diz.
Sem perder as esperanças, o presidente faz um apelo aos grandes
empresários da cidade. “Eles poderiam nos apoiar e descontar de seu
Imposto de Renda. Podem encontrar meios, já que hoje tem o ICMS
esportivo”. Enquanto novos horizontes não surgem, o Paraíso Futsal segue
firme na briga pelo tricampeonato consecutivo da Taça EPTV. Além disso,
apostará suas últimas fichas no campeonato mineiro, a ser realizado nos
próximos meses.
Equipe conquista o tricampeonato consecutivo da Taça TV Alterosa - Foto: Assessoria Paraíso Futsal |
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