segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um dos maiores goleiros da história da AAP, Zé Luiz afirma: “Poderia ter jogado em um dos grandes do Brasil”

(Reportagem publicada pelo Jornal do Sudoeste em julho de 2012)

Reza a lenda que goleiro é a posição mais ingrata do futebol. Dizem também que onde ele pisa não nasce grama. A negatividade dos ditos populares, entretanto, jamais assustou José Luiz Pereira, arqueiro da Associação Atlética Paraisense durante as décadas de 1980 e 1990. Considerado por muitos como um dos melhores jogadores da história de São Sebastião do Paraíso, atuou em diversas equipes profissionais de Minas Gerais.

Longe dos campos há mais de 15 anos, as defesas de “Zé Luiz”, hoje com 46 anos, ainda estão vivas na memória dos torcedores da “Verdona”. Dono de um posicionamento invejável debaixo das traves, ele começou sua carreira em 1984, quando disputou a segunda divisão do campeonato mineiro. Muito jovem e sem receber salários do clube, o goleiro era obrigado a dividir seu tempo entre os treinamentos, o tiro de guerra e o trabalho como auxiliar de pedreiro.

Um dos seus primeiros treinadores na equipe profissional da Paraisense foi Claudio Coutinho, parceiro de Pelé no Santos campeão de tudo na década de 1960. Ele lembra que foi ao lado do ex-craque que ele vivenciou uma das cenas mais marcantes de sua carreira. “No dia anterior a um jogo contra o Olímpia, em Lavras, alguns jogadores nossos foram para um baile na Praça de Esportes e passaram a madrugada por lá. Como iríamos sair de Paraíso logo de manhã, pegamos esses rapazes na porta do clube e viajamos. Chegamos em cima da hora para o jogo, nem deu tempo de fazer aquecimento. Entramos em campo e logo no primeiro tempo tomamos quatro gols, fora as quinze bolas que defendi. No segundo tempo, achei que tomaria uns dez, mas só tomei dois. Vim embora chateado, pensando em largar o futebol. Mal tinha começado e já queria parar. Mas daí o Coutinho me disse: ‘Não Zé Luiz, não foi a primeira vez que você tomou seis e não vai ser a última1. Foi uma experiência muito boa”.

No ano seguinte, com a troca da diretoria, Zé Luiz e seus colegas de time foram todos dispensados. O novo presidente preferiu contratar jogadores profissionais e fechou as portas para os jovens da região. Sem oportunidade na Paraisense, o goleiro voltou ao amadorismo. “Ele poderia ter segurado os amadores, já que não tinha gasto nenhum. Poderíamos adquirir experiência com os mais velhos, mas isso não aconteceu”, lamenta.

Em 1987, o atleta poderia ter tido a grande oportunidade de sua carreira. No entanto, a “inexperiência” e a “falta de vontade” de dirigentes da AAP (clube detentor de seu passe), impossibilitaram Zé Luiz de atuar em grandes clubes do futebol brasileiro. Ponte Preta, América-MG e Cruzeiro se interessaram pelo futebol do goleiro, porém, nenhum acordo foi fechado. O jogador só ficou sabendo das propostas muito tempo depois.

José Luiz acredita que, se estivesse em atividade nos dias atuais, poderia atuar em um time de ponta. Segundo ele, a principal diferença do futebol de sua época para o de hoje é o trabalho dos empresários. “Naquela época eu tive algumas oportunidades, mas eu não tive um dirigente com visão para poder me ajudar. Ele teria um retorno financeiro e eu também. Poderia ter jogado em um dos grandes do Brasil”, lamenta.

De volta à “Verdona” em 1989, o goleiro disputou a segunda divisão estadual. Em seguida, com os direitos federativos na mão, foi para a Patrocinense, de Patrocínio de Minas. José Luiz rodou por diversos times até que, em 1994, mais uma vez, vestiu a camisa um da AAP. Naquele ano a equipe conseguiu o acesso para a tão sonhada série A do mineiro. Depois, se transferiu para o Vila Nova, também da primeira divisão. “Lá eu joguei contra o Taffarel, Dida, Renato Gaúcho... Quando você chega perto desses caras, percebe que são profissionais, pois são mais estruturados. Mas dentro de campo não tinha nada disso. Eu me igualava a eles e, apesar da fama, os encarava de igual para igual. Tinha que defender meu pão”, lembra.

Uma série de contusões e algumas decepções financeiras fizeram com que o goleiro deixasse os gramados. Mesmo assim, declara que não mudaria uma linha sequer de sua história de amor com o futebol. “Acho que eu fiz o meu melhor, só não tive a oportunidade de ter alguém para me ajudar. Mesmo assim, não faria nada diferente”. Sobre a saudade dos tempos dentro das quatro linhas, Zé Luiz afirma que o sentimento existe, mas trata de deixar o passado em seu devido lugar. “Hoje a minha vida é outra, a minha realidade é outra e tenho que encará-la”.

Aos 46 anos, Zé Luiz trabalha como pedreiro em Paraíso


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